segunda-feira, 7 de setembro de 2015
Mais de 600 mil inadimplentes na Bahia devem ter situação regularizada
A Tarde
dividas“Devo não nego, pago quando puder!”. O dito popular nunca foi tão apropriado para milhares de baianos que estão com o nome sujo na praça. Apertados por dívidas que só crescem com as cobranças de juros de mora (permanência) e multas, mais de 600 mil estão inadimplentes em todo o Estado, e impossibilitados de realizarem operações de créditos, das mais simples, como as compras com o cartão de crédito ou crediários, às mais complexas, como o financiamento bancário.
Trazer esses consumidores de volta às compras, com facilidades de crediário e uso do cartão de crédito é o que pretende a Federação das Câmaras dos Dirigentes Lojistas na Bahia (CDL) que vai realizar a partir deste mês mais um mutirão de reabilitação dos inadimplentes em Salvador e nas maiores cidades do interior do Estado. A ação busca a conciliação em processos judiciais que tramitam nos Juizados Especiais e a negociação de dívidas junto a empresas para a retirada do nome dos cadastros de serviço de proteção ao crédito.
O mutirão para tentar reabilitar milhares de baianos que estão impossibilitados de realizar operações de créditos e financiamentos por conta da inadimplência vai ser realizado conjuntamente pela FCDL e Tribunal de Justiça do Estado da Bahia. O “TJ Concilia” e o “Feirão do Nome Limpo” vão acontecer simultaneamente em Salvador, Feira de Santa e em Vitória da Conquista já a partir deste mês.
Conforme explicou o diretor-executivo da Federação das Câmaras dos Dirigentes Lojistas da Bahia, Carlos Machado, do universo de mais de 600 mil inadimplentes, pelo menos 40% deles se localizam em Salvador. E a grande maioria tem como principais credores as administradoras de cartões de crédito, bancos e lojas de crediários. Outro dado que preocupa a FCDL é que a maioria dos devedores tem até quatro dívidas em atraso.
Nome limpo
O número de consumidores inadimplentes no Brasil cresceu 4,47% em julho, segundo os dados da Serasa, o que significa um contingente de 57 milhões de pessoas com cadastros negativos no comércio como um todo. Em Salvador, segundo o Sindicato dos Lojistas da Bahia (Sindilojas), as perspectivas apontam para um cenário ainda mais duro para os próximos meses, com um crescimento médio esperado em torno de 10% no índice de inadimplência.
O diretor da FCDL, Carlos Machado acredita que aproximadamente 60 mil consumidores com o nome negativado deverão procurar os feirões em todo o estado. E desses, espera-se que pelo menos entre 35 e 40 mil consigam algum tipo de negociação que possa reabilitá-los. Uma das soluções nas intermediações que serão propostas tanto pela FCDL e como pelo Tribunal de Justiça é equacionar os interesses das empresas, com a situação socioeconômica do cliente.
Para tanto a eliminação dos juros e das multas e o alongamento dos prazos de pagamentos são tentados junto ás empresas. “Mas é importante saber quanto o consumidor poderá pegar dentro daquilo que determina o seu orçamento”, enfatiza Machado. A FCDL explica ainda que ao fechar um acordo com os credores e iniciar o pagamento dos débitos, o consumidor terá, na maioria dos casos, seu nome reabilitado em até 24 horas.
Lojistas e consumidores
De um lado o lojista querendo vender mas sem encontrar a clientela. Do outro, o consumidor querendo comprar mas com o nome sujo na praça e, portanto, sem aceso ao crediário e uso do cartão de crédito que lhe permite parcelar as compras. Essa equação que não fecha é que tem angustiado os comerciantes de uma forma geral, ante um cenário de contínua queda nas vendas durante os últimos meses.
Segundo explica o presidente do Sindillojas, Paulo Mota, a queda nas vendas já preocupa os comerciantes com vistas às compras para o período natalino. “As lojas estão com excesso de mercadorias. E por outro lado, os lojistas, com a queda nas vendas, estão descapitalizados. E essa instabilidade econômica só agrava o problema”, diz.
Na avaliação do Sindilojas, com a inadimplência sendo superior a 600 mil consumidores em Salvador, o comércio é um dos setores da economia que mais sente os efeitos negativos dessa situação. “As compras no cartão de crédito são a principal, alavanca nas vendas, e como o consumidor está super endividado e tendo de arcar com juros altos para parcelar seus débitos, acaba comprando menos para não fazer mais dívidas”, justifica.
Cartões
O presidente do Sindilojas, Paulo Mota, diz que as compras com cartões de crédito representam dois terços de toda movimentação financeira dos lojistas e por isso mesmo fica preocupado, uma vez que ao parcelar os débitos, optando pelo crédito rotativo, os consumidores ficam sujeitos a juros bem mais altos e acabam ou na inadimplência, ou simplesmente tendo de optar por não mais comprar até quitar o débito.
No mês de julho, segundo os dados da Confederação das Câmaras dos Dirigentes Lojistas (CNDL), que reúne lojistas de todos os estados, período, as vendas a prazo caíram 3,26% em comparação com o mesmo mês do ano passado. O Serviço de Proteção ao Crédito (SPC Brasil) estimou em 57 milhões de consumidores que estão com cadastro negativo.
As contas de água e luz também passaram a figurar no volume de dívidas em, atraso e chegaram, segundo o SPC, a apresentar um aumento 13,24%, este ano, em comparação com o mesmo período do ano passado. Já os bancos são o segmento com maior participação no volume de pessoas com pagamentos atrasados, com 40,92% de todas as dívidas, seguidos do comércio (20,14%) e telefonia, internet e TV a cabo , com 14,72% das dívidas em atraso.
Movimento para limpar o nome é crescente
Mensalmente mais de 17mil pessoas buscam os escritórios da CDL em Salvador em busca de informações sobre cadastros negativados. De janeiro até o final do mês passado foram computados 138 mil atendimentos, dos quais uma média mensal de 13 mil consumidores se concentram na sede da entidade, no Largo dos Afliltos.
Através do seu quadro jurídico, a entidade atende diariamente centenas de clientes que estão com o cadastro negativo e procura intermediar as negociações com os credores. O diretor da CDL em Salvador, Felipe Sica, explicou que as dívidas com cartões de crédito representam atualmente 38% do total dos endividamentos e por isso mesmo, tem maior impacto sobre as atividades do comércio como um todo.
Quem está endividado, segundo explicou, além de ter bloqueadas as facilidades do crediário e até mesmo dos financiamentos bancários, perde a auto-estima, pois é sempre olhado com desconfiança pelos comerciantes. “Ninguém fica inadimplente porque quis, mas sim por contingências socioeconômicas. Uma dívida não paga tem um efeito cascata. E por isso mesmo há todo um esforço para reabilitá-lo”, disse.
Em Salvador, quem está com o nome negativado na praça, além do feirão conjunto que acontecerá até novembro, pode buscar atendimento diariamente pode fazer a intermediação por meio do Deacon (Departamento de Assistência ao Consumidor) para regularizar o nome na praça e tornar-se adimplentes.
O feirão conjunto entre a FCDL e o Tribunal de Justiça vai acontecer nos dias 23 a 25 de setembro, em Vitória da Conquista; 21 a 23 de outubro, em Feira de Santana; e 23 a 27 de novembro, em Salvador. O TJ também firma parceria com a CDL Salvador para o compartilhamento de informações do Serviço de Proteção ao Crédito.
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