Como trabalha essa Marjorie Estiano! Ao longo de uma longa conversa com a VIP, ela falou dos seus projetos recentes – teatro, TV e música – sem transmitir nenhum cansaço.
Ela gosta de desafios e é sempre bem-sucedida quando os enfrenta, apesar de não se gabar disso.
Aos 29 anos, a curitibana prefere ser reservada. Evita falar sobre a sua vida pessoal, mas consegue opinar sobre qualquer coisa.
Já traiu? “Prefiro não falar sobre isso.” O que acha da traição? Segue uma longa resposta (confira na entrevista abaixo).
Fala sempre com uma voz tranquila, tão hipnotizante quanto o seu corpo, que está no auge da forma, justamente por causa de um dos desafios que mais procurou: Marjorie sempre quis interpretar um papel que não tivesse nada a ver com ela ou com a sua cara de meiga.
Encontrou tal desafio no teatro. Está em cartaz no Rio de Janeiro com a peça O Inverno da Luz Vermelha, na qual faz uma prostituta de Amsterdã que seduz dois homens, enquanto desliza pelo palco só de lingerie.
Ela também está de volta à Rede Globo, na nova novela das 6, Vida da Gente. E começou a produzir seu terceiro disco.
No meio de tudo isso, conseguiu arrumar tempo para servir sucos e fazer uma faxina para a gente, com a disposição de sempre, mas com bem menos roupa que o normal.
Na vida real, você é tão meiga quanto seus personagens da TV?
A ideia da meiga não é muito decorrente das personagens. A primeira personagem que eu fiz foi a Natasha, que não se importava em ser educada com ninguém.
O que cria essa imagem são as minhas feições mesmo. São os estereótipos.
Fulana de tal é a gostosa, cicrana tem cara de louca, e eu devo ter essa cara de meiga. Eu não me definiria como uma pessoa muito meiga.
Como você se definiria, então?
Sou uma pessoa afável, mas acho que meiga não é o meu cartão de visitas.
Eu não consigo me definir, isso é bem mais fácil para os outros. E, no final das contas, cada um vai ter uma definição diferente.
Como é viver uma prostituta de Amsterdã no teatro?
Eu estava procurando uma personagem que me exigisse tudo isso. Nunca tinha feito nada parecido com a Christine [protagonista da peça].
O meu raciocínio é este: procurar sempre fazer coisas que me instiguem, que eu não saiba nem por onde começar.
Na nova novela, você vai interpretar uma personagem totalmente oposta da que está fazendo nos palcos. Como é passar de mulher sensual a reservada?
É um processo de concentração muito pessoal. É o figurino que te compõe, é uma música que você ouve…
Que músicas te preparam?
Eu costumo fazer um repertório para cada personagem. Cada uma tem um universo que me instiga mais.
Para a Christine, eu gosto de ouvir muito Yann Tiersen, Philip Glass. Para a Manuela, é algo mais leve.
Você conhece a Red Light em Amsterdã? O que acha de mulheres se exporem em vitrines?
A Christine é desse ambiente. Eu acho que é a profissão que elas escolheram e cada um tem o direito de viver do jeito que achar melhor.
Como a profissão é legal em Amsterdã, a vitrine é uma maneira de elas se protegeram até.
Você estudou o comportamento das prostitutas para a personagem?
Fiz um laboratório, conversei com prostitutas em São Paulo, conheci o ambiente delas.
Você passa a abrir mais o olho para esse universo, você fica procurando essas personagens na sua vida.
O que mais me surpreendeu é que na vida delas nada é muito bom, nada é muito ruim. Elas estavam meio que anestesiadas, sabe?
A minha vida é um gráfico louco, cheio de altos e baixos, e minha impressão é que a vida delas não tem muito objetivo.
Na peça, você canta uma música da Alizée (francesa que usa pouca roupa e rebola no palco). Já considerou cantar suas músicas dançando daquele jeito?
Não compartilho dessa estética, mas ao mesmo tempo eu me envolvi, achei interessante a maneira que ela se coloca, como dança, como fala. Mas, sinceramente, nunca
diga nunca, né?
diga nunca, né?
Algumas músicas suas cabem bem num momento de preliminares. A sua versão de Oh! Darling, dos Beatles, por exemplo, parece ótima para o sexo de reconciliação. Você pensa nesse tipo de coisa enquanto grava?
Não tinha isso em mente. Mas é muito louco, né?
A mesma música transporta para universos tão diferentes, dependendo do repertório de cada um que escuta.
Mas, quando estou compondo, penso no que tal música me acrescenta.
Mas você curte ouvir música durante as preliminares? Quais?
Eu não tenho muita regra para essas coisas. Tudo tem que ser muito natural.
Quando é programado, não dá muito certo. Que os dois ali, ou os três ou os quatro, estejam a par, cientes e de acordo com o que vai acontecer.
É o momento mais animal do homem, eu acho. Não pode mesmo passar muito pelo racional. Quanto menos você pensar, melhor.
Nesta edição, temos uma pesquisa sobre traição (pág. 148) que mostra que 73% dos homens e 64% das mulheres já traíram. A fidelidade está em extinção?
Eu conheço casais que têm um relacionamento aberto.
A essência de um bom relacionamento é o acordo. Cada um tem o seu. Cada um tem o que pode e o que não pode. Onde machuca mais, onde não machuca.
Não acho que a fidelidade seja uma regra para um relacionamento feliz. Eu acho que uma boa relação é baseada na lealdade a esse acordo.
A pesquisa mostra que o instinto sexual é preponderante para o homem trair. Já entre elas, há os motivos emocionais, mas 40% já dizem que a traição rolou por uma oportunidade incontrolável. O que você acha disso?
Conheço homens extremamente sensíveis e emotivos e mulheres extremamente machistas, em certo sentido.
Quando a mulher é pegadora, as pessoas acabam associando com promiscuidade. Mas não é bem assim. A mulher está começando uma coisa nova.
Você acha que a mulher deve abordar quando está interessada num homem?
Eu acho que a gente tem que agir da maneira que se sente confortável. Mas isso não significa permanecer num lugar de conforto.
Eu acho que aquilo que te instiga, que te provoca, é o que te faz sair do lugar. E movimento é sempre bom.
Você não tem que fazer nada que te agrida, mas eu sou aberta. Precisamos ser francas e buscar o que queremos. Ficar esperando sentada não vai te ajudar a conquistar as coisas que quer.
Entre a TV, o teatro e os seus discos, você arranja tempo para se divertir?
A vida do ator é muito inconstante. Às vezes, você está trabalhando para caramba, mas depois você sente falta dessa loucura.
E aí você dorme. O que resta é dormir para recuperar as energias.
Mas gosto de sair para comer, para dançar, e também de ficar em casa sozinha, assistindo à televisão.
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