O termo suicídio ecológico é usado por especialistas para designar o descompasso entre os recursos naturais disponíveis e o seu consumo, que leva à extinção de uma determinada espécie. Um exemplo bastante didático é o de uma população de cabritos em uma ilha semidesértica: depois de devorarem toda a vegetação da ilha, eles acabam morrendo de fome. Isso aconteceu em algumas pequenas ilhas do Pacífico e não é muito diferente do que o ser humano tem feito com o planeta Terra. Ao poluir o ar ou jogar substâncias tóxicas na água, a humanidade está se matando aos poucos, assim como algumas bactérias criadas em laboratório cujas secreções ácidas acabam por inviabilizar sua própria vida.
- 40% da biodiversidade da América está ameaçada pela ação humana, diz relatório
- Qual é a origem do plástico que polui os oceanos
Além da carência de comida ou do esgotamento de recursos naturais que causam a extinção da espécie, o suicídio ecológico também pode se dar por razões como a falta de colaboração entre espécies ou populações. Esse foi o caso dos nórdicos que viviam na Groenlândia e se recusaram a interagir e aprender com os Inuit, esquimós com os quais dividiram a ilha entre 984 d.C., quando ali chegaram, e meados do século XV, quando sua sociedade entrou em colapso e desapareceu.
Já na Ilha de Páscoa, dentre vários fatores ambientais, muitos dos quais ainda não são bem entendidos, o desmatamento parece ter sido a principal razão para o suicídio ecológico da população ali presente. O biogeógrafo Jared Diamond, da Universidade da Califórnia e autor do livro Armas, Germes e Aço, conta que seus alunos lhe perguntam como os habitantes da Ilha de Páscoa não perceberam o que estava acontecendo, o que disseram quando estavam derrubando a última palmeira. A reflexão vale também para as ações humanas da atualidade, reflete o professor em uma palestra no TED Talks: se tais ações parecem inacreditáveis no passado, ele diz, "no futuro parecerá inacreditável o que nós estamos fazendo hoje", referendo-se ao aumento da poluição atmosférica, às mudanças climáticas e a escolhas de curto prazo motivadas por interesses meramente econômicos de grupos de elite minoritários.
O fenômeno do suicídio ecológico não é novo, mas ainda é pouco estudado. Há um novo estudo desenvolvido pelo MIT (Instituto de Tecnologia de Massachusetts) sobre as bactérias do gênero Paenibacillus sp., que quando alimentadas com açúcar e nutrientes em abundância (no laboratório) comem descontroladamente e começam a se reproduzir em uma velocidade absurda. O problema é que a digestão de todos esses carboidratos tem efeitos colaterais.
Um resquício ácido das reações químicas que ocorrem no interior das bactérias logo começa a se acumular - é como se elas nadassem em suas próprias fezes, já que são culturas isoladas em laboratório. O pH ácido torna o ambiente inóspito para as próprias bactérias e, em menos de 24 horas, todos os micro-organismos estão mortos.
A única forma encontrada pelos cientistas de evitar esse suicídio ecológico foi aplicar um composto que absorve o ácido (um tampão). Uma pequena parte de tampão mantém as bactérias vivas por 48 horas, ao passo que a quantidade necessária para evitar completamente a acidificação do meio permite que as bactérias continuem vivas, caso em que param de crescer quando acaba o alimento, mas não morrem. Em outros testes, foi constatado que, com menos oferta de alimento, as bactérias entram em hibernação quando acaba a comida, mas continuam vivas, já que não chegam a produzir ácido suficiente para o seu suicídio.
Parece contraditório, mas os resultados da pesquisa apontam que piorando as condições de vida das bactérias é possível salvá-las do suicídio ecológico. O estudo, publicado na Revista Nature, indica ainda que o fenômeno do suicídio ecológico não é raro mesmo em bactérias que vivem no solo. Os pesquisadores descobriram que ele ocorre em 25% das 118 espécies analisadas.
Embora seres humanos e bactérias sejam grupos muito diferentes, a pergunta que fica é: será que, como as bactérias, estamos consumindo os recursos naturais disponíveis muito rápido e deixando um rastro de destruição que pode acabar destruindo as condições mínimas das quais precisamos para sobreviver? Restringir algumas das "vantagens" do mundo moderno, como embalagens e produtos dos mais variados tipos de plástico (que acabam nos mares), veículos movidos por combustíveis fósseis e até mesmo os alimentos ultraprocessados que comemos, pode ser uma boa ideia para manter o nosso ecossistema limpo.
Nenhum comentário:
Postar um comentário